A marcha marcada para amanhã (18) promete mobilizar centenas de milhares de pessoas na Praça de Maio em Buenos Aires como reação à morte do colega Nisman. Ela foi convocada por alguns procuradores argentinos. Seguindo a linha que vai costurando uma história iniciada com atentado à embaixada de Israel em 92 e continuada esses dias com uma denúncia bombástica e um suicídio/assassinato, a convocatória foi cercada de mistério: será uma marcha em silêncio.
Os procuradores não gritarão palavras de ordem nem cantarão o hino argentino nem darão entrevistas. Caminharão lado-a-lado, junto com políticos da oposição que já confirmaram presença e mais simpatizantes indignados com os últimos eventos e que ressentem uma Argentina dominada pela máfia de… (a verdade é que para esse posto existem muitos potenciais ocupantes).
“A marcha é um apoio à verdade”, comentou um dos fiscais em entrevista à rádio Mitre; “o corpo de procuradores sofreu um dado irreparável”, retrucou outro, enquanto, do lado do governo, uma chuva de críticas chegou ao ponto de caracterizá-la como um golpe de Estado judicial.
Para o secretário geral da Presidência Aníbal Fernandez, o chamado 18F foi convocado por “narcotraficantes” e “antissemitas”, de modo que é lamentável que “oportunistas” usem a marcha por benefício próprio. Num lacônico surto de otimismo, a Presidenta Cristina disparou que “a alegria vai vencer o ódio” e agregou:
“Eles sempre gostaram do silêncio porque não têm nada para dizer ou porque não podem dizer o que pensam”
E, de fato, eu me pergunto: qual seria o sentido de realizar uma marcha sem que se preste nenhuma explicação sobre contra quê está se manifestando? Haveria mais sentido se na própria convocação ao menos um manifesto fosse publicado, um release para a imprensa, algo; pois no final das contas o que está sendo divulgado são divagações sobre sentidos abstratos da justiça vindas de profissionais que estão aí metidos dentro dela.
Entende-se que cidadãos comuns se escondam atrás de uma assertiva vazia como #YoSoyNisman (ou como #JeSuisCharlie) sem, de verdade, elaborar o que significa ser qualquer um dos dois. Muitas pessoas irão à marcha com uma motivação dessa natureza: um desconforto geral com a situação catalisado por uma morte misteriosa. Mas se deveria esperar isso do corpo de Procuradores?
De acordo com um deles, Ricardo Saenz:
“Em um momento tão duro seria bom entender o que é o silêncio”
E, bem, sobre esse ponto, ele não deixa de ter razão; entretanto, considero uma irresponsabilidade indigna no serviço público “botar lenha na fogueira” num momento de incerteza institucional, sem aportar absolutamente NADA ao debate.
Amanhã eu conto como foi!